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O que é o Gutenberg e por que o WordPress precisa dele

  • Última modificação: 15/02/2019
  • Tempo de leitura: 8 min.

Quando a internet ainda era mato, ninguém fazia nada sem saber programar. Veio o WordPress e surgiu a possibilidade de qualquer pessoa, sem conhecimento nenhum de programação, publicar os seus conteúdos online. A internet evoluiu e hoje as pessoas querem mais do que simplesmente escrever um monte de posts parecidos.

O WordPress vai mudar, mas a intenção é a mesma do começo: fazer com que as pessoas não dependam de ninguém para criar coisas na internet. O problema é que hoje as pessoas querem — e para se destacar, precisam de — muito mais do que antigamente.

De uns tempos para cá o WordPress tem corrido atrás. A evolução do Personalizar, novos widgets e a API REST para facilitar a integração com sistemas externos são bons exemplos disso. O Gutenberg é a continuação desse movimento de modernização do WordPress.

O que é o Gutenberg?

O Gutenberg é a nova experiência de criação de conteúdo no WordPress. Para a versão 5.0 teremos seu primeiro passo: a alteração do editor de conteúdo. Depois disso o caminho segue até que ele tome conta de toda a personalização do site.

A palavra-chave do Gutenberg é modularidade, ou seja, ao invés de um “texto” teremos blocos, sendo eles parágrafos, imagens, citações, galerias e etc. Enfim poderemos dar adeus aos shortcodes.

Um page builder para chamar de seu

Se você relacionou blocos com plugins como o WPBakery Page Builder (Visual Composer), Elementor e Site Origin Page Builder você entendeu bem o conceito. Uns melhor que outros, plugins assim tem transformado o WordPress em um verdadeiro faça-você-mesmo. Linhas, colunas, componentes e clica-e-arrasta vem fazendo parte de cada vez mais sites em WordPress, seguindo uma tendência de concorrentes mundiais como Wix e Squarespace.

Com a demanda por sites usando page builders crescendo desse modo, o que está acontecendo é que temos ótimos desenvolvedores, especialistas em WordPress, se dividindo em subgrupos. Seu cliente tem um site legado com Elementor, mas você usa o Visual Composer. Sua agência precisa de um novo profissional, mas achar um desenvolvedor que use o Site Origin Page Builder está complicado. Não seria melhor se todo mundo usasse o mesmo construtor de páginas? Não seria melhor para o seu cliente ter na mão um produto que mais pessoas conseguem manter?

O Gutenberg poderia ter bebido mais da fonte de plugins que já estão consolidados, com certeza. De qualquer jeito, pelo menos agora todos nós poderemos contribuir para um projeto só. Como diz o ditado, a união faz o açúcar a força.

O cenário mundial e o mundo WordPress

O WordPress hoje é responsável por 29% dos sites da internet e vinte e nove porcento é muita coisa. Não é por isso que ele pode ignorar a concorrência ou, pior, ignorar o que os usuários querem. Se ele surgiu da necessidade das pessoas escreverem sem precisar de programadores, é natural que hoje, onde as pessoas querem montar um quebra-cabeças, ele forneça as peças, como seus concorrentes tem feito. O WordPress precisa evoluir? Sempre. Como ele pode evoluir? Facilitando as coisas para o usuário. Já existe alguma coisa por aí que facilita mais do que o modo atual? Sim, a construção por blocos.

Pense no maior fabricante de máquinas de escrever na época dos primeiros computadores digitais. Ou na maior fabricante de filmes fotográficos quando surgiram as máquinas digitais. Se seu produto não atender ao que as pessoas precisam, você pode acabar sendo o maior player de um mercado onde ninguém mais consome.

Acontece que 29% é coisa demais. A retrocompatibilidade, isto é, a necessidade de que novas versões funcionem sobre versões antigas com o mínimo de interação puxa o WordPress para trás. O PHP 5.3 foi lançado em 2009, mas até hoje o WordPress é compatível com a versão 5.2 da linguagem, abrindo mão, muitas vezes, de um código mais limpo para que seja assim. Nenhuma mudança brusca pode ser feita rápido demais, senão uma tonelada de sites quebrados ficam pelo caminho.

A maneira que está aí já está consolidada, mas não tem para onde evoluir. Para dar um passo para frente, o processo de criação precisa mudar e, infelizmente, essa mudança afeta o modo como a gente trabalha. Ninguém quer, mas ou isso acontece ou o WordPress para no tempo. No começo vai haver muita resistência, depois vem uma onda de aceitação e por fim a adoção.

Como isso afeta o meu dia a dia

Para os designers afeta a forma de pensar. Ao invés de pensar no todo, o pensamento também tem que levar em conta possíveis construções onde os blocos são rearranjados, demandando mais estudo da peça. O formulário vai em cima do bloco de equipe no layout, mas pode ser que o cliente inverta a ordem. O visual vai funcionar?

Para os desenvolvedores é um tubarão no aquário: novas linguagens (prepare-se para aprender muito JS para ontem), um novo armazenamento de conteúdo e, por enquanto, um milhão de perguntas não respondidas. Devo trazer um começo de construção de blocos personalizados por aqui em breve. Por enquanto você pode saber que os blocos são armazenados no conteúdo do post, divididos por comentários HTML e ficam somente lá, no post_content. Sim, é isso aí mesmo.

A fronteira entre o território de plugins e o território de temas também deverá ser repensada. Pode um plugin fornecer um bloco sem se preocupar com absolutamente nada do que aparece no front-end? Até onde ele será responsável pela forma como seu bloco será exibido?

Nem tudo são flores

Para arquitetos de informação eu admito, é um pesadelo. Imaginar a chance do cliente simplesmente reordenar as coisas para algo que não faz o menor sentido é triste, mas, infelizmente, clientes tem graus de maturidade. Algumas pessoas ficam doentes e confiam em médicos, outras tentam vários remédios até perceber que precisam ir se consultar com alguém que realmente entenda o seu problema. A analogia vai longe, mas se você atualmente só cura resfriados talvez seja a hora de correr atrás para saber mais.

Algo a ser evitado é uma overdose de possibilidades, um dos problemas dos page builders atuais. Às vezes menos é mais e não vai ser legal para o usuário ter que decidir entre 15 blocos que fazem mais ou menos a mesma coisa. Se seguirem o mantra de Decisões ao invés de opções da filosofia do WordPress estaremos livres disso.

A falta de um roadmap claro é algo que incomoda. Por enquanto, o que temos é uma vaga previsão de lançamento em Abril. Estamos na versão 4.9 do WordPress e a versão 5.0 só será lançada quando o Gutenberg estiver pronto, mas o que é pronto neste caso? Hoje temos uma versão madura, é verdade, mas a maneira como vários plugins atuais vão se relacionar com o Gutenberg ainda parece incerta. A questão do armazenamento também é controversa: de um lado uns defendem essa forma pela centralização que ela proporciona, de outro há a falta de uma API para verificar, por exemplo, de uma vez só, em quais páginas um determinado bloco é utilizado.

Ah, tem outra coisa séria que o Gutenberg não resolve. A confusão mental do usuário editar seu conteúdo em uma tela e esse conteúdo aparecer em outra completamente diferente. Acho que um dia chegamos lá.


E aí, concorda ou acha que o Gutenberg é uma furada? Deixe aí nos comentários, fala que eu te escuto.

Felipe Elia

Associate Director of Platform Engineering na 10up, WordPress Core Contributor, Global Polyglots Mentor na comunidade internacional do WordPress e Locale Manager na comunidade WordPress Brasil.

Este post tem 13 comentários

  1. Vinny Scrouth

    Caraca bicho… fazia tempo que um artigo não me prendia até o ponto final kkkk
    Parabens e obrigado, me fez odiar o gutenberg um pouquinho menos huahauha

    1. Felipe Elia

      kkkk que bom Vinny, valeu pelo comentário!

  2. Paulo Roberto Gaefke

    Ainda estão naquele estágio “seguindo a corrente”, os page builders como O DIVI, estão correndo e até incorporando o Gutenberg para maior facilidade dos usuários. Tudo muito bacana, mas continua aquele medo das pessoas acharem que sabe, e quando precisam resolver algo que as desafie além dos plugins, ficarem perdidas e deixarem de herança para os programadores, projetos furados de clientes mal atendidos. WordPress é tudo de bom, mas não faz a massa, no máximo assa o pão rsss. Excelente o seu posicionamento.

  3. André Castilho

    29%, de onde tirou essa informação? Poderia compartilhar a sua fonte?

      1. André Castilho

        Obrigado pela resposta. Na verdade, dos sites que utilizam CMS, 29% são do wordpress. (60% do market share). A forma que foi descrita aqui, deu a entender que estava referindo a todos os domínios da internet.

        1. Felipe Elia

          Acho que você não entendeu o site lá, André.
          “WordPress is used by 29.4% of all the websites” = “O WordPress é usado por 29,4% de todos os sites da internet”
          “that is a content management system market share of 60.0%.” = “o que representa um market share de 60% dos sites com sistemas de gerenciamento de conteúdo”.
          Todos os sites da internet: WordPress 29%
          Sites que tem CMS: WordPress 60%.
          Deu a entender que estava se referindo a todos os sites da internet porque é isso aí mesmo 😉

          1. André Castilho

            Tens razão. Preciso maneirar na leitura dinâmica. Perdão pelo vacilo.

          2. Felipe Elia

            Imagina, acontece 🙂 Volte sempre!

  4. Israel Block

    acho que está mesmo na hora de um pagebuilder nativo. A observação da Vanessa é muito bem colocada. código sujo é um terror, e espero que o Gutenberg resolva isso, facilitando a manutenção e facilitando até em aspectos como SEO. Não acredito que será algo fenomenal já na versão 5 do WordPress, mas teremos um bom campo para expandir. Aliás, ótimo post Elia

    1. Felipe Elia

      Obrigado Israel! É como você disse, “teremos um bom campo para expandir” e, pelo menos com o Gutenberg, vamos poder unir esforços para melhorar uma coisa só, ao invés desse cabo de guerra que estamos vivendo agora.

  5. Vanessa

    Excelentes colocações, Elia. Como você falou, uma hora vamos ter que aceitar rs.
    Um dos principais motivos que torço o nariz para page builders, é o código-fonte. A maioria suja o html com tags totalmente desnecessárias. Alguns, como Wix, resolvem tudo no JS. Como está o Gutenberg em relação a isso?

    1. Felipe Elia

      Nesse ponto vai bem. No futuro eu acho que vai variar de bloco pra bloco, mas por enquanto, pelo que eu vi, estão fazendo direitinho 😀

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